As cidades portuárias conectam a produção local aos fluxos globais e, quando bem geridas, geram efeitos econômicos relevantes para além do cais. O debate internacional sobre cidades e desenvolvimento urbano, reforçado no Dia Mundial das Cidades em 31 de outubro, destaca a necessidade de políticas que integrem crescimento, inclusão e sustentabilidade nos territórios urbanos onde a atividade portuária é determinante.
A experiência comparada mostra que os benefícios econômicos dos portos tendem a se espalhar regionalmente, enquanto parte dos impactos negativos permanece concentrada nas áreas urbanas do entorno, o que exige coordenação entre autoridades portuárias e municipais para maximizar ganhos e mitigar externalidades. O programa Port-Cities da OCDE sistematiza esse diagnóstico e propõe caminhos para alinhar competitividade logística com qualidade de vida urbana, apontando que a antiga correspondência direta entre crescimento do porto e crescimento da cidade já não é automática e requer governance dedicada.
No Brasil, a centralidade logística dos portos é indiscutível e se reflete na corrente de comércio. Levantamentos setoriais estimam que a imensa maioria do comércio exterior nacional passa pelos portos, com Santos ocupando papel estratégico e crescente no valor movimentado. Em dados recentes, a autoridade portuária indica que quase 29 por cento da corrente comercial do país passa por Santos, reforçando o peso do complexo para a economia nacional. Esse protagonismo implica desafios de capacidade, eficiência e integração com a malha urbana e com os corredores terrestres.
A dimensão ambiental é parte central dessa equação. Pesquisas apontam contribuição relevante das atividades portuárias e das emissões de navios para poluentes atmosféricos em áreas urbanas, com potenciais efeitos à saúde. Estudos recentes discutem o caso de Santos e análises de maior escopo indicam que regiões portuárias, em média, apresentam emissões e concentrações superiores às de regiões não portuárias, o que reforça a urgência de medidas de mitigação alinhadas às melhores práticas internacionais.
A resposta passa por planejamento integrado e por investimentos técnicos. Projetos de aprofundamento de calado em Santos, por exemplo, buscam acomodar navios de maior porte e reduzir gargalos, o que pode ampliar a eficiência do sistema sem perder de vista condicionantes ambientais e urbanas. Em paralelo, soluções como fornecimento de energia em terra durante a atracação vêm ganhando espaço em portos do mundo por reduzirem emissões e ruído de navios em operação nos berços, compondo um cardápio de medidas para equilibrar competitividade e sustentabilidade.
Celebrar o Dia das Cidades em chave portuária é reconhecer que o porto é plataforma de inserção internacional e também vizinho da cidade real, onde moram trabalhadores, circulam cargas e se desenham escolhas de uso do solo. Cidades portuárias que planejam juntas com suas autoridades portuárias, acompanham indicadores e investem em tecnologia e mitigação ambiental tendem a ampliar benefícios econômicos, reduzir impactos e fortalecer seu papel no cenário nacional.
Fontes: ONU, OCDE e APS.

 
								